• A palavra não existe ainda, porém, talvez possamos começar a pensar numa palavra nova que defina os incertos à deriva. Andam todos no mesmo mar. Todos navegam no mesmo tipo de barco. Todos andam à procura de uma vida melhor. Todos fogem de algo. São refugiados ou migrantes ilegais? O conceito começa a diluir-se nas águas do mediterrâneo central quando aparecem em pequenos barcos de madeira improvisados, com pouca comida, pouca água, pouca sorte e muita esperança. “Lampedusa, Lampedusa!” Gritam o nome duma ilha que não sabem muito bem em que rumo está. Navegam, alguns, com pequenas bússolas de norte duvidoso e só esperam chegar a terra; não pedem mais que Lampedusa, nem sequer Sicilia que é maior, por isso, com “mais terra” para poderem fugir numa qualquer praia onde os fracos motores aguentem chegar. Saem da Tunísia, são rotulados de “migrantes ilegais” porque navegam sem bandeira sem registos e a maior parte nem guarda documentos de identificação. Alguns vêm bem vestidos, com roupas de grife e ostentam telemóveis de última geração, são quase sempre estes que também trazem elevadas quantias em dinheiro. Outros não têm mais do que a pouca roupa no corpo. O que aqui se vê é algo novo, estão a surgir vários géneros, completamente diferentes de migrantes a juntar aos que simplesmente fogem dos países desmembrados e a quem nos habituámos a chamar de refugiados. Migrantes, emigrantes, refugiados, “vêm todos no mesmo barco”, todos esperam chegar à Europa, uns dizem que querem trabalhar, outros vêm ter com a família que dizem já lá estar e outros, não dizem nada, simplesmente vêm. Os barcos são comprados pelos “facilitadores”, homens que normalmente fazem a travessia com eles e voltam para darem continuidade ao negócio. Chegam a custar mais de 50 mil euros, estas pequenas embarcações com motores improvisados, às vezes, motores de carros adaptados que servem perfeitamente para levá-los à grande mentira de uma vida melhor na Europa.

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